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"A Virgem" - Gustav Klimt |
Adoro ver uma mulher sorrindo.
A advogada que esteve comigo esta semana, antes de partir, perguntou:
- Ivo, você se tornou uma incógnita no Judiciário. Lá em Salvador, volta e meia as perguntas que ouço nas conversas informais entre advogados, defensores públicos da União e promotores são: qual a identidade da juíza federal que o informou sobre a existência do processo na Justiça Federal, qual o grau de envolvimento entre vocês e porquê alguém arriscaria assim a sua reputação de magistrada, entrando numa situação delicada dessas?
Eu respirei fundo e respondi:
- Fui ofendido mas ainda tô no lucro!
Ela riu:
- Não foi a minha intenção! Me perdoe!
Rindo, eu respondi:
- Tudo bem! Diga aos seus amigos do Judiciário que as mulheres, por instinto, costumam quebrar todas as "leis" e fugir da companhia dos homens que as aplicam.
Ela riu e concordou. Após alguns segundos procurando as palavras mais "adequadas", perguntou:
- Mas você é um anarquista? Sem leis, resta-nos o caos! Você não segue lei nenhuma?
- Claro que sigo, dentro da medida do possível!- Mas na Sotnilândia, a Terra Prometida de Ivo Sotn (aqui eu voltei a rir), mundo que criei para mim mesmo e as mulheres seguimos apenas duas leis.
Rindo, ela perguntou:
- Quais?
Neste momento, afetei um cômico ar de arauto e, olhando para o infinito (na verdade, para as paredes sujas e empoeiradas da oficina:
- Acima do portal que dá acesso à Sotnilândia, a Terra Prometida, Ivo, nosso fundador e único legislador, escreveu, num lençol branco nupcial, valendo-se de seu próprio dedo e uma mistura de leites oriundos do cérvix uterino, das glândulas parauretrais, paravaginais e traços de sangue endometrial, de uma menstruação que já apontava no corpo feminino que o acompanhava, naquele momento:
"ABANDONAI AQUI TODOS OS VOSSOS MEDOS E TODAS AS LEIS DOS HOMENS, Ó, VÓS, MULHERES, QUE ENTRAIS!!!"
Ela desatou numa gargalhada. Quando pôde se recompor, ainda secando algumas lágrimas que assomaram por conta do riso, ela disse:
- Eu espera tudo, menos que você me respondesse isso! Você criou o seu próprio mundo e, ainda por cima, plagiou o Portão do Inferno de Dante, ao criar as leis de sua "Terra Prometida".
Rindo, respondi:
- O plágio está apenas na metáfora em sim, mas, veja bem!, o conceito é totalmente outro. Lá, o abandono da esperança e o início das dores, aqui, por mais que haja uma conservação de parte das linhas geométricas de todas aquelas valas e círculos - porque por aqui, o sofrimento também é garantido - o objetivo é o prazer e a liberdade.
Ainda sorrindo, ela respondeu-me:
- Sotnilândia - é este mesmo o nome? Você é mesmo doido, Ivo!
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